sexta-feira, 29 de junho de 2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012


ACRE: REGISTRO CINEMATOGRÁFICO DE UMA ÉPOCA

O portal Agência de Notícias do Acre disponibilizou, por ocasião dos 50 anos do Acre estado, interessante registro cinematográfico do Estado de fins da década de 40 até por volta da década de 60. O documentário revela peculiaridades em relação à educação, produção e alagação.

Posse do major José Guiomard dos Santos como governador do Território Federal do Acre, nomeado por Eurico Gaspar Dutra.

terça-feira, 26 de junho de 2012


BRASILEIRO POR OPÇÃO-VIII

JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO E COSTA*


No início de uma tarde o “Rio Tapajós” atinge sem novidade, a confluência do rio Purus com o rio Acre onde, segundo a tripulação, distinguia-se o barracão do conhecido cearense “Barão da Boca do Acre”, que marcava suas mercadorias com três eles – L.L.L. – que significavam seu nome: Lixandre Liveira Lima. Evidentemente os bolivianos não intuíram-se da esdrúxula curiosidade.

Prossegue o vapor rio acima, impelido pela hélice, já de onde os bolivianos começariam a vislumbrar, não obstante o anoitecer, a imensa planura de terra firme coberta de floresta, “habitat” natural e abundante da “Hevea Brasiliensis”, de látex farto e de boa qualidade, constituindo a grande riqueza da região.

A noite, sob um céu alegremente estrelado, o “Rio Tapajós” chega à Vila do Antimarí, sede da Superintendência do Estado do Amazonas.

No navio as horas passavam preenchidas por certa celeuma que contrastava com a quietude entorpecida da vila. Paralelamente ao aprovisionamento da expedição boliviana, não foram esquecidos instrumentos musicais, como Charango (um tipo de bandolim), a Zaponha, a Quena e a Tarka (espécie de flauta), a Huancara e a Caixa (percussão). Mesmo sem a participação feminina, alguns sempre ensejavam passos da Cueca ou Lhamero, ao som da melodia da Takirári, uma das mais populares canções bolivianas. Tudo isso regado à famosa Paceña, que já existia desde 1877 e à queimante Mocochinchi, uma cachaça que fazia cuspir fogo.

Dom José Paravicini resolve então balançar a vila, precisamente na véspera da virada do ano de 1898, quando alguns, na calada da noite, ainda jogavam conversa fora, regada a umas lapadas de Cocal para uns, Quinado ou Gin com Vermouth ou a cerveja amazonense XPTO, para outros.

Tudo ia bem, mas eis que estronda de repente, um pavoroso e aterrorizante estampido, de fazer tremer nas árvores as mais encravadas arborícolas (preguiça), elucidando de súbito como seria o Apocalipse. Houve até quem se lançasse do assento, tal a intensidade da grave detonação do apito do gaiola.

Passado o susto, embora não ainda refeitos do terrível sobressalto, os moradores da Vila Antimarí certificaram-se que aquela viagem do “Rio Tapajós” não se tratava de finalidade comercial, mas de objetivo de estabelecer Posto Aduaneiro nos rios Acre, Purús e Iaco, inclusive tomar posse de um patrimônio, tudo isso com o descuidado consentimento do Governo brasileiro.

Atordoadas, confusas, entontecidas com o alvoroço do inesperado acontecimento, as pessoas acorreram, instintivamente, ao barranco, a fim de ver e entender a causa de tão estranho escarcéu.

Misturado com os demais habitantes, também atônito e surpreso, o advogado José de Carvalho, ao saber das primeiras informações de que o vapor transportava uma expedição boliviana, com a finalidade de instalar postos aduaneiros, estranhou não haver recebido comunicação das autoridades brasileiras de Manaus.

As palavras pronunciadas em idioma desconhecido agravavam a perplexidade. Quem fora despertado, não compreendia o pesadelo. Quem tomara uns tragos a mais, cismou que talvez bebera sem moderação.

A verdade é que a compreensão dos fatos foi a única ausente, na noite de 30 de dezembro de 1898, na Vila do Antimarí. Ainda mais pelo fato de o “Rio Tapajós” levar pouco tempo atracado, adicionado a falta de esclarecimentos acerca da numerosa comitiva estrangeira que transportara.

Como não havia nenhuma embarcação ancorada no porto, Dom Paravicini, ansioso para por em prática seu propósito, mandou desatracar a embarcação e ordenou que o “Rio Tapajós” prosseguisse rio Acre acima. Acabara de tomar ciência de que umas duas dezenas de navios haviam subido naquela direção e todos, evidentemente, deveriam retornar superlotados de borracha, o que proporcionaria uma excelente arrecadação para o recém fisco boliviano.

Enquanto não fora estabelecido a base para a instalação do Posto alfandegário, o devido expediente neste sentido seria efetivado no próprio navio.

Puerto Alonso (atual Porto Acre) no início do século XX.
Desenho do artista Hélio Cardoni
Site Kaxiana
Em 3 de janeiro de 1899 D. José Paravicini funda, literalmente, a localidade denominada “Puerto Alonso”, em homenagem ao Presidente da Bolívia, Don Severo Fernandes Alonso, hasteando pela vez primeira o pavilhão boliviano.

O espírito de audácia do conquistador boliviano refletiu-se de imediato, numa região de espessa floresta, praticamente impenetrável em muitos pontos, rica em árvores colossais, onde destacavam-se as nativas seringueiras, castanheiras, cumarus, louros e muitas e muitas outras, símbolos de economia que ajudaria a fixação do homem à terra.

Tão logo aprovou a localização para sua base, D. Paravicini dividiu sua expedição em grupos destinados aos afazeres – de desmatamento, de construção e de burocracia. A prioridade para a efetivação dos trabalhos continuaria sendo a arrecadação de impostos. Para tal, o “Rio Tapajós” seria utilizado como posto alfandegário ambulante.

Enquanto as devidas providências eram tomadas em terra, inclusive com a participação de alguns habitantes da redondeza, o vapor deslocara-se rio acima e logo ao completar uma curva, é avistado, encalhado num baixio, o vapor “Franklin”, no qual achavam-se duas autoridades amazonenses – O Juiz de Direito da Comarca e o Superintendentes da Vila Antimarí, Coronel Francisco Monteiro de Souza Júnior.

As autoridades brasileiras estranharam o pavilhão boliviano tremulando no mastro de um navio brasileiro. Maior impacto tiveram quando do “Rio Tapajós”, ao aproximar-se, apresentaram-se um grupo de estrangeiros, ocasião em que D. Paravicini, em aparente autoritarismo, dera conhecimento a todos, do propósito que o levara àquele lugar, informando-os, sobretudo do encerramento das atividades atribuídas aos brasileiros naquela região, passando todos os encargos para a responsabilidade da Bolívia.

Sempre tocado pelo sentimento de patriotismo, D. Paravicini julgava estar na Bolívia, motivo pelo qual experimentava a alegria de navegar e pisar em território pátrio, após inúmeras contrariedades vividas na empreitada a que propusera-se.

Em aditamento ao objetivo da ocupação, a autoridade boliviana cientificara ao Comandante do “Franklin”, Tenente-honorário Joaquim Sarmanho, acerca da instalação do posto alfandegário, entregando-o a notificação para o devido pagamento, tão logo descesse o rio, com destino a Manaus.


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* José Augusto de Castro e Costa é cronista e poeta acreano. Mora em Brasília e escreve o Blog FELICIDACRE.

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