terça-feira, 3 de julho de 2012
BRASILEIRO POR OPÇÃO- IX
JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO E COSTA
Don José Paravicini após a
abordagem ao vapor "Franklin", ainda prosseguiu subindo o rio Acre por mais uns
três dias, chegando um pouco acima da volta da Empresa, onde travara
conhecimento com Neutel Maia e Raimundo Sargento, precursores da notável jornada
migratória brasileira, arrojados ao trabalho, com vistas a prosperar seus
seringais.
A todos, a autoridade
boliviana cientificara de seus propósitos e projetos, dando ênfase,
sobremaneira, ao domínio da Bolívia na região acreana.
Razoavelmente satisfeito com a
investida, D. Paravicini retorna à Puerto Alonso, para avaliar o andamento dos
afazeres recomendados e concretizar a cobrança do imposto de exportação dos
produtos retirados daquela área considerada boliviana, equivocamente por
autoridades brasileiras.
É bom lembrar que os
bolivianos não haviam esquecido de que o "Rio Tapajós" havia sido fretado da
"Amazon Steam Navigation" ao valor de quarenta e cinco contos de réis, pelo
período de um mês, acrescido de um conto e quinhentos réis por dia que excedesse
ao prazo. O vapor "Rio Tapajós", conduzindo a comitiva de D. José Paravicini,
havia zarpado de Belém na madrugada de 14 de dezembro de 1898 e o vencimento do
frete estaria para ocorrer dentro de poucos dias. Do dia 14 de janeiro para
adiante, o frete do "Rio Tapajós" correria por conta do acréscimo, avaliado em
um conto e quinhentos réis, fato que poderia ser sanado com o dinheiro da
exportação dos produtos acreanos.
Os bolivianos agradaram-se da
aparência de Puerto Alonso, transformada em tão pouco tempo, destacando-se o
adiantado estágio das primeiras construções de pequenas barracas na clareria
aberta na floresta, deixando à vista uma extensa planície.
Instalado o posto alfandegário
em Puerto Alonso, pode-se dizer que também instalados estavam os ânimos
acirrados de brasileiros e bolivianos na área.
Desencalhado alguns dias
depois, o vapor "Franklin" transpôs o porto de Puerto Alonso sem dar a menor
atenção aos sinais do pessoal da alfândega, cometendo uma tremenda desobediência
às formalidades e exigências das autoridades bolivianas, o que foi considerado
um estupendo desacato e revoltante hostilidade.
Decididos a não se submeterem
às novas ordens, o Superintendente da Vila Antimarí e o Juiz de Direito da
Comarca manifestaram-se por escrito ao Comandante do "Rio Tapajós", solicitando
melhores esclarecimentos sobre a exagerada e acintosa fiscalização dos que se
diziam representantes do Governo da Bolivia. Intimavam a que o Comandante do
"Rio Tapajós" levasse imediatamente ao conhecimento da comissão boliviana que as
autoridades do Amazonas estavam firmemente resolvidas a fazer cessar o abuso que
os bolivianos praticavam, e os certificassem de que deveriam, dentro de 24
horas, lhes fornecer provas que justificassem plenamente aquela norma de
conduta, responsabilisando ao comandante do navio e à respectiva empresa, por
tudo quanto pudesse ocorrer.
Como não obtiveram respostas
conclusivas, porém dúbias, inconsequentes e preocupantes, o Superintendente e o
Juiz tomaram por bem interpelar pessoalmente a Don José Paravicini, que os
informou, em alto e bom tom, que não lhes devia satisfações, de vez que era um
Plenipotenciário e só privava entendimentos de potência a
potência.
Os brasileiros, por medida de
prudência, retiraram-se de Puerto Alonso com destino ao Antimarí, donde o
Superintendente designou, de imediato, o Secretário José de Carvalho para, em
Manaus, expor, os que julgava serem sérios e preocupantes acontecimentos, ao
Governador do Amazonas, solicitando providências.
A autoridade boliviana
continuaria baseada em Puerto Alonso, representando seu país e tentando imprimir
nova ordem administrativa, sob a inspiração das leis de sua
nação.
Como reflete o binômio
organização e método, gerador de um natural efeito administrativo, o exercício
de D. Paravicini agradara a uns (principalmente bolivianos), mas desagradara
grandemente a outros.
Observe-se que o desempenho de
Don José Paravicini na região acreana prendia-se sobremaneira ao objetivo de
cumprimento do dever em seu torrão patriótico. Tudo que se fizera seria para o
bem da Bolívia. Por isso ele se dedicara, de corpo e alma, à construção de uma
estrutura organizacional composta de um Governo a oferecer serviços
administrativos, judiciários e econômicos, sem descuidar-se da proteção
religiosa.
A conduta de D. Paravicini,
talvez por exagerar no passionalismo patriótico, temperado com o propósito de
firmar e ampliar o domínio da Bolívia com rígida severidade, revelando visível
arrogância em ambiente brasileiro, começara a propagar-se de modo negativo em
Manaus, repercutindo por todo o Brasil, veiculado pela imprensa amazonense e
carioca.
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