sexta-feira, 21 de setembro de 2012


BRASILEIRO POR OPCAO-XVII

                   José Augusto  de Castro e Costa

 

Em Xapuri as autoridades bolivianas não eram muitas e estavam alojadas em três casas: na Intendencia, onde residia o próprio Intendente, Dom Juan de Dios Bulientes, na de Alfredo Pires e na de Augusto Nunes, português, colaborador dos bolivianos.

Ao saltar em terra, Plácido de Castro dividira a pequena força de 33 homens em três grupos, para atacar simultaneamente as três casas, reservando para ele a do centro, onde funcionara  a Intendência.

Penetrando  onde achara-se o Intendente, de lá, em silêncio,  retiraram algumas  carabinas e  dois cunhetes de balas, para em seguida chamar  o comandante em alto brado, o qual, ainda sonolento respondera: “Es temprano para la fiesta”, ao que Plácido, elevando o tom,  retorquiu: “Não festa, Sr. Intendente, é revolução”.

Levantaram-se, sobressaltados , o Intendente e os  seus comandados. Deixando-os sob guarda, Plácido dirigira-se  à casa de Augusto Nunes, onde Moreira nada houvera feito.  Ali todos foram presos, enquanto  o coronel Galdino já viera da casa  de Alfredo Pires, escoltando vários bolivianos, caracterizando-se assim, o inicio da revolução acreana.

Neste mesmo dia 6 de agosto continuaram a reunir gente, verificando o Caudilho que alguns proprietários prometiam tudo, mas em verdade mostravam-se receosos.  O coronel Jose Galdino era quem agia com mais desassombro, sem parcimônia.

Plácido convocara uma reunião para a madrugada seguinte, a qual se realizara conforme esperado. Nela expusera as razões que determinaram  a   revolução e ouvira a eloquência  das palavras dos senhores  Dr. Albino dos Santos Pereira, Gastão de Oliveira e Manfredo  Álvares Affonso.

Em seguida o  Caudilho convidara os presentes a  proclamar  a independência do Acre, com o nome de Estado Independente do Acre, e sugerira  o ato simbólico de ser  hasteada a bandeira ao som da Marcha Batida, pois já havia um corneteiro entre eles, fato que todos reverenciaram, tirando o chapéu respeitosamente.

Foi lavrada uma Ata, da qual Plácido de Castro mandara extrair várias cópias, para serem distribuídas rio abaixo, imediatamente, enviando uma ao Delegado boliviano, em Puerto Alonso, a  fim de  que, se alguém fraquejasse, não pudesse recuar, visto de haver comprometido  com  a  assinatura no documento.

Os prisioneiros bolivianos foram expulsos do território  via Iaco, enquanto Plácido descia o rio Acre a  frente de 64 homens, ficando o coronel Galdino no comando da guarnição de  Xapurí, que se compusera de cerca de 150 homens, e com  ordem de recrutar quantos fossem necessário.

Ao embarcar com seu grupo para descer o rio, Plácido tomara conhecimento de que um judeu-francês,  estabelecido na região,  estaria fazendo reuniões ocultas, com o fim de sufocar  a revolução, talvez não acreditando que o movimento triunfasse.

Ato continuo, Plácido mandara prender esse estrangeiro, levando-o em sua companhia, na sua própria canoa.

No terceiro dia de viagem, o Caudilho  recebera um recado que lhe enviara o coronel João do Monte, comunicando que o batalhão boliviano já haveria chegado em “Capatará”, com grande numero de efetivo.

Continuando  a  marcha, chegaram ao seringal “Itu”, de onde Plácido mandara reconhecimentos a “Capatará”, por água e por terra, recebendo, em seguida,  a  informação de que a noticia era falsa, pois ainda não se soubera nada sobre o batalhão boliviano ali esperado. Era final de agosto quando a tropa revolucionária  chegara a “Capatará”, pela  manhã, partindo em seguida  para  “Benfica”, onde o Caudilho soubera que, com sua demora, em vista de forte impaludismo, muitos companheiros haviam fugido, dando crédito ao boato sobre sua morte, enquanto outros seriam  presos pelos bolivianos,  que já  possuiriam conhecimento da revolução.

Entre os dias 1 e 7 de setembro, no seringal “Liberdade”, Plácido de Castro ocupara-se em convocar os vizinhos e em reunir muita gente. Segundo ele, muitos foram  agarrados, já em fuga, pelo pavor que lhes haveriam causado  a  prisão e  a fuga de seus chefes.

Continuando a marcha revolucionária, Plácido chegara a “Caquetá”, ali encontrando seu conterrâneo Gentil Norberto, o qual  viera  informar-lhe que trouxera de Manaus 120 Winchesters, 100 encapados de farinha e 12 cunhetes  de balas, de vez que fora encarregado pelo governo do Amazonas de fazer guerra no Acre, demonstrando, ao Caudilho, não possuir a  mínima noção sobre coisas militares, muito menos bélicas.

Logo a  seguir apresenta-se o Sr. Rodrigo  de Carvalho, que se dissera com a mesma incumbência do governo amazonense. Notara-se ser público o  desentendimento dos dois, passando os dias em implicância mútua, em discussões estéreis  e em troca de insultos e inculpabilidades.

Prosseguindo viagem Plácido passara pelos seringais  “Bagaço”e “Liberdade”, preparando-se para atingir a Empresa, quando, ao romper  do dia 18 de setembro, as 5:30 horas,  foram surpreendidos,em cheio, no campo da “Volta da Empresa”,  pela primeira descarga de balas, a céu aberto. A tropa acreana, estupefata, reagira como pudera, em tiroteio intenso.

Extinta a  munição, a  derrota pronunciara-se pelos revolucionários,   a  despeito  do esforço despreendido  para evitar o desastre.

A  estreia  dos  acreanos  em  campo de batalha contabilizara  baixa de 22 mortos, dez feridos e 6  evadidos.

O inimigo, não obstante achar-se munido de fuzil, também tivera suas arranhaduras, constante de 10 mortos, inclusive um capitão, e 8 feridos. Mesmo em numero superior, os bolivianos  não efetuaram  perseguição  aos  brasileiros.

 

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