BRASILEIRO POR OPÇÃO-XXVI
José Augusto de Castro e Costa
Com o assassinato de Plácido de Castro, a intranquilidade
assolara de vez as plagas acreanas, sobressaltando a todos, ante o regime de
violências, com o fim de instigar os seringueiros contra os patrões.
Nessa política de conturbação generalizada, os gerentes de
seringais não tinham, naturalmente sobre o seu pessoal, a mesma ascendência que
o dono, o que propiciava a rebeldia de ambiciosos “aviados”, pequenos
comerciantes, que dispunham de muitos seringueiros, com quem trabalhavam por
conta própria, supridos pelo barracão de que eram fregueses, e em parte
locatários.
Em francas e constantes desavenças, alguns seringueiros
(capangas), instigados, escondidos atrás de “sapopemas” de enormes samaúmas,
emboscavam, fatalmente, os gerentes ou donos de seringais.
Havia fase em que o sentimento de segurança e tranquilidade
consolidava-se e parecia permanecer por algum tempo, porém, logo o sintoma da
desestabilização manifestava-se, levando autoridades a abandonar seus postos, a
exemplo do Juiz de Direito, Dr. João Rodrigues do Lago e, a seguir, o Juiz
Preparador, Dr. Silvio Gentil de Lima, que, igualmente ameaçado de morte,
também tivera que desertar, indo relatar minuciosamente os fatos ao Presidente
da República, Nilo Peçanha.
Dizem que em face de tanta coação, passara a reinar no Acre a “paz de Varsóvia”. Era sob essa
opressão psicológica e física que se encontrava a terra acreana. A própria
história do assassínio de Plácido de Castro era contada em segredo.
Quando se esperava um desafogo geral com o advento de um novo
Prefeito , eis que agravava-se ainda mais a situação, com a medida de algum
militar, quando entendia de revigorar o regime de violência, provocando o
renascimento de discórdias entre prefeito e militares e seringueiros e
autonomistas.Era de se supor que o procedimento do grupo autonomista do Alto
Acre, não secundando o movimento verificado nos outros dois Departamentos,
tranquilizasse as autoridades federais, quanto à manutenção ali da ordem
pública. Parece, entretanto, que essa atitude incrementara as desconfianças e
temores dos agentes do governo em todos os Departamentos acreanos, onde a
turbulência política era uma constante, e generalizada era a discórdia.
Os militares reforçavam as medidas de precaução na defesa de
sua Companhia Regional. Mais receoso e menos controlado, o Prefeito passava a
hostilizar os principais elementos autonomistas, afastando dos cargos
administrativos os poucos que os ocupavam, e cercando-se do grupo de
adventícios, intrigantes e bajuladores, que iludiam a confiança e exploravam os
favores de todos os prefeitos.
Segue-se nesse impasse até 1920, quando, pelo Decreto
nº14.383, de 1º de outubro, o governo federal unificou a administração do
território, o qual passou a ser dirigido por um Governador, tendo sido nomeado
para exercer a elevada função, o médico Epaminondas
Jácome, militante ativo em prol da autonomia desde 1909, e membro do Clube Político
“24 de Janeiro”, presidido pelo coronel Antonio
Antunes Alencar, um remanescente revolucionário.
Ao Governador Epaminondas Jácome competiu organizar a
estrutura administrativa do território, no período de 1920 a 1923, cabendo aos
seus dois sucessores apenas, ao que se sabe, custodiar os recursos financeiros.
O quarto governador do Acre, porém, o advogado Hugo Ribeiro
Carneiro, firmou sua capacidade administrativa, ao concretizar, no período de
1927 a 1930, as primeiras edificações em alvenaria, tais como o atual Palácio
Rio Branco, sede do governo, o Mercado Municipal, os três pavilhões do atual
Quartel da Polícia Militar, a instalação da primeira agência do Banco do Brasil
no Acre, a construção da primeira Maternidade em Xapurí, além de ativar o
exercício da Instrução Pública, instituindo,no “curriculum” escolar, a
aplicação de disciplinas relacionadas às atividades cívicas, artísticas e
conhecimentos gerais, impondo, como costumava dizer, o uso do “uniforme que pôs
termo aos excessos e inconvenientes da moda no Acre”.
Depois de vivenciar as crises diplomáticas e políticas,
vira-se o Acre envolvido com a crise constitucional, quando a Constituição
Brasileira de 16.7.1934, preceituara em seu artigo 16, § 1º, que ”logo
que tiver 300.000 habitantes e recursos suficientes para a manutenção dos
serviços públicos, o território poderá ser, por lei especial, erigido em
Estado”, e em seu §3º, do mesmo artigo, “o território do Acre será organizado
sob o regime de Prefeituras autônomas, mantida, porém, a unidade administrativa
territorial, por intermédio de um delegado da União, sendo prévia e
equitativamente distribuídas as verbas destinadas à administração local e
geral”.
Fora porém o décimo primeiro
governador, José Guiomard dos Santos, quem dera ao Acre, de 1946 a 1950,
os méritos almejados por aqueles que lutaram pela terra que aprenderam a amar,
transmitindo-lhes um sonhado sentimento de segurança e tranquilidade.
Mineiro de Perdigão, era o Major Guiomard dotado de certa
experiência, adquirida no período de 1940 a 1943, quando exercera o cargo de
Governador do Território Federal de Ponta Porã.
No Acre, o governador Guiomard dera ênfase à sua
administração, promovendo a modernidade do Território, ao pavimentar suas ruas,
utilizando tijolos, em vista da completa ausência de pedras no solo acreano.
Para facilitar suas visitas aos demais municípios, em número de seis, além da
capital, foram adquiridas sete lanchas modernas, com acomodações para seis
passageiros, em três camarotes com beliches, distinguindo, cada uma, com a
denominação da respectiva sede: Rio Branco, Xapurí, Brasiléia, Sena Madureira,
Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul.
Eram destaques do governo a conclusão de obras até então
inacabadas, como escolas públicas e hospitais, e a implantação das primeiras
monoculturas, levadas a efeito em locais devidamente inaugurados, na capital
acreana, para os respectivos fins, como a Fazenda Sobral, a Estação
Experimental e o Aviário.
Em junho de 1954, o
então Deputado José Guiomard dos Santos, líder do PSD acreano, apresentara à
Câmara dos Deputados o projeto destinado a elevar o Território do Acre à
categoria de Estado, pleito que se tornou uma constante até sua concretização,
oito anos depois.
Por essa época, no Acre, destacavam-se dois partidos: O PTB
(Partido Trabalhista Brasileiro), liderado pelo Deputado General Oscar Passos e
o PSD (Partido Social Democrático), comandado pelo Deputado General José
Guiomard dos Santos. Ambos, contemporâneos desde a Academia Militar, haviam
governado o Território do Acre, cabendo ao então Major Oscar Passos, o nono a
ser nomeado, exercer a administração acreana por um curto período, de 30 de
agosto de 1941 a 22 de agosto de 1942.
Em 7 de setembro de 1961, dada a renúncia de Janio Quadros,
assumira a Presidência da República o Vice-Presidente João Goulart, do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), opositor ao PSD, a que pertencia o Deputado José
Guiomard dos Santos.
Em 29 de outubro de 1961,fora nomeado o 22º governador do
Acre, o petebista, Engenheiro Agrônomo José Ruy da Silveira Lino, acreano de
Tarauacá que, na sequência, viria a ser o último Delegado da União no
Território.
Um dos principais pleitos do Governador Ruy Lino era com
vistas ao bem estar social dos funcionários do governo que, desde os primórdios
da administração acreana, não possuíam a menor estabilidade empregatícia, nem
direitos a quaisquer benefícios que os demais funcionários brasileiros já
possuíam, sobretudo após a era Presidente Vargas.
Logo após tomar posse, o governador Ruy Lino, acompanhado do seu
chefe de Gabinete, Geraldo Brasil e do Deputado Oscar Passos, líder do PTB
acreano, apresentou ao Presidente João Goulart a situação reinante entre os
funcionários acreanos, conhecidos como extra-numerários mensalistas, que além
de não possuírem salário fixo, não usufruíam de direitos a férias, nem a
licenças trabalhistas.
Inteirando e sensibilizando o Presidente da República, o governador
Ruy Lino promoveu o enquadramento dos
funcionários públicos do Território do Acre, efetivando-os e garantindo-lhes
honrosa estabilidade, assegurando-lhes todos os direitos oferecidos através do Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis da União (Lei 1711, de 28.10.1952),
outorgando-lhes, enfim, dignidade e cidadania, vinculados ao Quadro de Pessoal
do Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
Não obstante às divergências partidárias, mais intensificadas
pelos correligionários apaixonados, a alta cúpula do PTB acreano sempre
concordou com o projeto de autonomia do Acre, elevado à categoria de Estado.
Haja vista a Ata da Reunião promovida pela Associação Comercial do Acre e
Classes Conservadoras, com os Deputados José Guiomard dos Santos e Oscar Passos,
sobre o tema. Registre-se, ainda, a entrevista do Governador Ruy Lino ao jornal
carioca Correio da Manhã, oito meses antes da sanção da Lei nº4.070, quando o
mandatário acreano destacara os esperados benefícios que adviriam com o novo
Estado.
Para não fugir às curiosidades do Acre, sua elevação a estado
deu-se, justamente, com o beneplácito do Presidente da República, membro do
partido opositor ao do autor do projeto, demonstrando respeito ao anseio da
maioria dos acreanos. E José Ruy da Silveira Lino, o último governador fora, em toda a história do Território do
Acre, o primeiro e único governador acreano de nascimento.
Em 15 de junho de 1962, finalmente, era sancionada a Lei nº 4.070,
que elevara o Território do Acre à categoria de Estado, vindo a revelar o
brilho “de um astro em nossa bandeira, que foi tinto no sangue de heróis”.
”Adoremos a estrela altaneira, o mais belo e o melhor dos
faróis”, a guiar o único Estado que é brasileiro por opção.
F
I M
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