BRASILEIRO POR OPÇÃO-XXIV
José Augusto de Castro e Costa
Através o Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana,
Euclides da Cunha, a serviço
O Tratado de Petrópolis, em princípio, constituíra-se na
primeira solução de uma contenda diplomática, a qual ainda requereria efetuar
outros ajustes em relação ao Acre, que
envolviam também o Peru, além da Bolívia.
Tratava-se de desarmonia
havida entre os dois países, tendo justamente o Alto-Purus e o Alto-Juruá na pauta das discussões da
área acreana, o que levara o Barão do Rio Branco a aprofundar-se nas
negociações, objetivando dispositivos
harmoniosos que chegassem aos completos entendimentos entre Bolívia, Peru e
Brasil. da Comissão de Limites do Brasil, prestara grande contribuição para
solidificar os conhecimentos do Barão do Rio Branco sobre a região litigiosa e
a consequente elaboração dos seus fundamentos,
ao assinalar que, “... partindo da foz do Purus e percorrendo uma
distância de 1.417 milhas ou cerca de 400 léguas, tem-se a prova tangível de
que quatro quintos do majestoso rio
estão completamente povoados de brasileiros, sem um hiato, sem a menor falha de
uma área em abandono, ligados as extremas de todos os seringais -, estirando-se
unida por toda aquela lonjura, que lhe define geometricamente a grandeza, uma
sociedade rude porventura ainda, mas vigorosa e triunfante”.
Seis anos após a elaboração do documento de Petrópolis, com a
data de 08.9.1909 seria finalmente assinado o “Tratado entre o Brasil e o Peru,
completando a determinação das fronteiras entre os dois países e estabelecendo
princípios gerais sobre o seu comércio e navegação na bacia do Amazonas”.
Estando o Acre, no princípio de 1904, legalmente integrado na
Federação brasileira, Plácido de Castro sentindo-se no dever de prestar contas
de sua atuação na campanha, ao chanceler Barão do Rio Branco, dirigira-se à
capital da República.
No dia 23 de abril, ao aportar o navio ao Cais Pharoux, no
Rio de Janeiro, o Caudilho fora recebido e passara a ser alvo de homenagens de todos os ministros de Estado,
dos membros das Comissões do Senado e da Câmara Federal, do presidente da
Associação Comercial, da imprensa, dos estudantes e do próprio Barão do Rio
Branco, por sinal, o primeiro a apertar-lhe as mãos, salientando que sua
bravura cimentara os alicerces do
Tratado de Petrópolis. Segundo jornais da época, os brados de exaltação a
Plácido ressoaram por toda a Praça XV, sem interrupção, à medida em que o cortejo
movimentava-se lentamente, sob a ovação popular.
O Território do Acre, após o Tratado de Petrópolis, ficara
dividido em três Departamentos administrativos: O Departamento do Alto Acre, o
Departamento do Alto Purus e o Departamento do Alto Juruá, criando-se,
posteriormente, o Departamento do Tarauacá. Os Departamentos eram administrados
por Prefeitos de livre escolha e nomeação do Presidente da República. Suas
administrações eram amplas e abrangentes, destacando-se as relacionadas à
administração rotineira e a segurança pública. As questões atribuídas à Justiça
cível e criminal ficavam ao encargo dos
juízes de Direito, juiz de Comarca e ao júri.
Em junho de 1904, Plácido de Castro fora empossado Prefeito
do Alto Acre, vindo a ser substituído, posteriormente, em razão de intrigas e
disputas políticas com as oligarquias locais, figurando como principais
adversários o prefeito substituto, coronel Gabino Bezouro e o delegado de
polícia, seu ex-companheiro revolucionário, Alexandrino José da Silva.
Plácido de Castro, depois de viajar ao sul do país, em visita
aos seus familiares, adquirira novo ânimo e decidira retornar ao Acre, desta
vez, porém, em busca de fortuna.
Por sua própria deliberação integrara-se o Caudilho, na
atividade industrial do extrativismo da borracha, na terra que aprendera a amar
e a elegera como seu lar.
O Caudilho adquirira
legalmente, a crédito de uma firma de Belém, no valor de cento e vinte contos
de réis, pagáveis a longo prazo, o seringal “Capatará”, localizado a algumas
milhas acima da “Volta da Empresa”, que passara a denominar-se “Vila Rio
Branco”.
Durante uma viagem ao Rio de Janeiro, Plácido tivera por
companheiro o escritor Euclides da Cunha, o qual o incentivara a escrever e
publicar seus apontamentos sobre a Revolução Acreana.
Aquele escritor tinha a pretensão de ocupar-se dos sucessos
que trouxeram o Acre para o Brasil, e Plácido, a título de contribuição,
forneceu seus apontamentos que estenderam-se desde junho de 1902, quando
achava-se no “Território de Colônias, da Bolívia, demarcando o seringal
“Victória”, de José Galdino, até quando publicou a ordem do dia, dissolvendo o
Exército acreano, em vista do general brasileiro ter invadido o Acre Meridional
e assumido clandestinamente o seu governo, que não estava acéfalo.
Ao retornar, Plácido de Castro encontrara o Acre em ebulição,
com as autoridades federais do exército temendo as ideias políticas dos que
pleiteavam perante o Congresso Nacional a criação do Estado do Acre. Eram
distribuídas sentinelas, postadas nas curvas do rio e na boca dos varadouros. A
instabilidade dessas turbulências políticas eram sentidas nos três
Departamentos.
O temor de oposição ou de deposição, que em referência aos
chefes acreanos manifestavam os prefeitos para ali enviados, constituía uma
verdadeira psicose, proveniente talvez de ambiciosos planos acariciados,
agravada de certo pela estranheza do ambiente e pelo pavor de adoecer e
sabidamente alimentada e usufruída pela corja de intrigantes e exploradores que
os seguia ou os cercava.
Confirmando a regra que se vinha estabelecendo, ao assumir a
Prefeitura do Alto Acre, o coronel Gabino Bezouro tomara-se de receios da
influência política do coronel José Plácido de Castro, que outra coisa não
desejava senão, na companhia de seu
irmão Genesco Castro, a tranquila exploração de seu seringal
Capatará e dos campos de criação de Esperança, mas que se tornara, naturalmente,
por sua bravura e lealdade, o intérprete das queixas do povo acreano contra
lesivos abusos praticados pelas autoridades arbitrárias, que iam desfrutar o
degradado território.
O novo Prefeito fora, assim, fatalmente induzido a hostilizar
o libertador do Acre, envolto em
intrigas e prevenções, estabelecendo-se logo as primeiras escaramuças.
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