BRASILEIRO POR
OPÇÃO-XXIII
José Augusto de Castro e Costa
O então novo programa do governo brasileiro trouxera,
nos idos de 1903, novas e esperançosas perspectivas aos revolucionários
acreanos, para quem havia justificativa de sonhar que “o sol da liberdade em raios
fúlgidos brilhou no céu da pátria nesse instante”.
No que tange ao Barão do Rio Branco, o mundo o vira dar nova
orientação à política exterior do Brasil, o que o levara a elaborar o famoso Tratado, destinado a dirimir a secular contenda de limites com a
Bolívia.
Quando o Ministro José
Maria da Silva Paranhos Junior assumiu a direção da política exterior
brasileira, a luta, a qual os antecessores do eminente chanceler, por pura
displicência, haviam posto como encerrada,
atingira a sua fase máxima, num conflito que chegara às proporções de uma
guerra, cuja gravidade o governo do Brasil não poderia ficar alheio, no
interesse da paz sul-americana. O ponto preocupante era, indubitavelmente, o arrendamento feito ao Bolivian Syndicate of New York, em cuja imensidão
encontrava-se a zona mais rica, mais próspera e mais produtiva, que o destemor
do acreano povoara, civilizara e
explorara, há muitos e muitos anos, até 1897, mansa e pacificamente.
Ao dedicar-se à
solução da questão do Acre, o Barão do Rio Branco sempre estivera ciente de que
seu empenho não resumia-se apenas à Bolívia mas, sobremaneira à oposição
política brasileira, onde o conflito de ideias refletia características de
formação intelectual diversificada, destacando-se de um lado a ótica jurídica e
de outro a social e patriótica, ou seja, o espírito do Direito versus o da
Diplomacia, com a torcida das conveniências imediatistas.
Envolvido nesse clima, Barão do Rio Branco, em perfeita sintonia
com o embaixador brasileiro em Washington, Assis Brasil, estudara com
profundidade os antecedentes históricos, com a visão aguda dos fatos e deduzira
que, na questão em apreço, sua preferência seria pelo acordo direto, o que
resolveria as dificuldades presentes. Nascera dessa deliberação, o instrumento
diplomático denominado Tratado de Petrópolis.
Para o Barão do Rio Branco e o Embaixador Assis Brasil, era
preciso a todo custo que o Acre fosse, o mais rápido possível, incorporado ao
Brasil. A questão acreana não era, para eles, uma questão amazônica, mas, sem
dúvida, uma questão brasileira. E o mais importante, para a busca da solução,
era o apoio e a dedicação do Presidente Rodrigues Alves, que expressava
ponderações sobre a conveniência de abreviar-se o ajuste do Tratado ao exame do Legislativo
brasileiro.
Em correspondência ao Barão do Rio Branco, o Embaixador Assis
Brasil expressara-se textualmente:”
Aproveito o fato de lhe estar escrevendo privadamente para submeter a V.Exª uma
cogitação que muito me tem ocupado relativamente ao Acre. Espero que V.Exª
estará firme na resolução de não mais deixar esse território sair do nosso
domínio. Vai, porém entregá-lo à discutível competência da politicagem do
Amazonas ou do Mato Grosso? Por que não usa do seu grande prestígio nacional
para promover a reforma que estabelece o regime dos territórios? Seria uma bênção para o País. Como acabar por outro
modo com as imoralidades do Amazonas, por exemplo, que ainda neste momento está
procurando hipotecer aos agiotas mais direitos soberanos que a Bolívia quis dar
ao Sindicato do Acre? E que melhor campeão teriam esses ricos territórios que o
herói incruento que os conquistou para o patrimônio nacional?”
Os revolucionários acreanos também fizeram sistemática
oposição à ideia dos políticos de Manaus de anexar o Acre ao Amazonas,
apropriando-se todos das palavras de Plácido de Castro de que “o Acre não será agrilhoado à triste sorte
do Amazonas, porque nós, acreanos, não queremos”.
Ao fundamentar
justificativas ante aos mais virulentos ataques da oposição política, Barão do
Rio Branco empenhara-se em revelar inúmeros precedentes históricos de cessões,
permutas e vendas de territórios, levados a efeitos mundo afora, celebrados por
potências europeias, tornando-se prática usual estendida ao Novo Mundo, a
exemplo de vários tratados celebrados pela República dos Estados Unidos da América, que conseguiu adquirir, por compra, a maior
parte do território que hoje possui.
A título de exemplo, Barão do Rio Branco citara o Tratado de
Paris,de 30.04.1803 durante a presidência de Thomas Jefferson, estipulando a venda
aos EE.UU., pelo governo de Napoleão Bonaparte, da Luisiana, cuja população
branca era totalmente de origem francesa.
Durante o governo de James Moore, através do Tratado de
22.02.1819, os EE.UU. adquiriram a Flórida Oriental e a Flórida Ocidental.
Inúmeros outros Presidentes americanos, a seguir, tais como James Polk, em
1846, Franklin Pierce, em 1853, Andrew Johnson, em 1867, Mackinley através do
Tratado de Paz, com a Espanha, em 1898, promoveram a celebração de Tratados, a
fim de adquirir territórios para anexá-los
à soberania americana.
Para o Barão do Rio Branco e os mais abalizados estudiosos do
Direito Internacional, o Tratado de Petrópolis, foi, em linhas gerais, uma
consequência jurídica do Tratado de Ayacucho, de 1867, o qual estipulava que a
execução daquele acordo dependia da demarcação que se mandaria proceder
conjuntamente, o que nunca ocorrera, por displicência do governo brasileiro.
E em 17 de novembro de 1903, seria finalmente assinado o
Tratado de Petrópolis, considerado um importante tratado internacional,
pondo fim às lutas que somente
extinguiram-se graças à bravura dos acreanos, ao espírito guerreiro do coronel
José Plácido de Castro e à proficiência do ministro plenipotenciário brasileiro
José Maria da Silva Paranhos.
Plácido de Castro e Barão do Rio Branco, completam-se na
História do Acre. Enquanto este foi o
amparo jurídico dos heróis acreanos, numa ânsia generosa de reparação e
justiça, que lhes eram devidas, aquele foi o combatente sem trégua, o auxiliar
primacial da grande conquista nacional.
O Brasil deve a Plácido de Castro e ao Barão do Rio Branco, a
incorporação do território acreano ao patrimônio Nacional.
Com efeito, torna-se justo todo acreano ufanar-se com o pacto
entre brasileiros e bolivianos, no qual não houve vencedores nem vencidos, mas
a remoção, para sempre, de dificuldades e complicações, culminando com a
conciliação de interesses bem entendidos, não obstante o derramamento de sangue,
de dois irmãos vizinhos e amigos.
Um tributo ao Tratado de Petrópolis!
Uma homenagem ao 17 de
Novembro!
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